quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O Teatro Oficina [Por Vitor Honorio]

Fundado em 1958, por um grupo de alunos da Escola de Direito do Largo de São Francisco, o Teatro Oficina é considerado, pelo Estado, pela classe artística e pelo público de teatro, um patrimônio cultural Brasileiro, por sua capacidade de autotransformação e resistência às constantes mudanças sociocultural e política do país, contribuindo desta forma, para uma sociedade mais justa.

O “Oficina” buscou sempre assumir uma postura crítica diante dos fatos da realidade, lutando contra os valores e as mistificações sacralizados pela classe média. Um de seus mais importantes fundadores foi José Celso Martinez Correra, que ainda trabalha no “Oficina” fazendo um teatro crítico e investigativo.

O Teatro Oficina distinguiu-se por ter absorvido, na década de 60, toda a experiência cênica internacional. E foi neste lugar, que seria lançado na cultura brasileira o que ficou conhecido como Tropicalismo, estética ligada ao movimento antropofágico de Oswald de Andrade e que influenciou músicos, poetas e outros artistas. Sua cenografia exuberante, que contrapõe elementos tropicais (como palmeiras e terraços) a interiores decorados, tem presentes a religiosidade delirante, a descrença no universo imediato de opções políticas e a busca por uma linguagem inovadora.


A representação do movimento tropicalista se deu no Teatro Oficina com a estréia de O Rei da Vela, em 1967, que foi atuada por outro fundador do teatro, Renato Borghi. Tal manifesto foi o suporte para a estética tropicalista de outros grupos de teatro que seguiam trajetória paralela ao do “Oficina”, com propostas parecidas em todo o Brasil, como: o Teatro de Arena ,em São Paulo; o Grupo Opinião, no Rio de Janeiro; o Teatro popular do Nordeste, em Recife; o Teatro de Equipe; em Porto Alegre; o Centro Popular de Cultura da UNE e seus co-ligados em todo o país.

O Grupo tem uma carreira que ultrapassa os limites estéticos, passando por várias formas de interpretação, gestão e arquitetura. Uma das principais montagens do Oficina foi a adaptação para o palco de "Os Sertões", de Euclides da Cunha, , que recriou a Guerra de Canudos. A peça foi apresentada no Festival de Teatro de Recklinghausen, na Alemanha, e na Volksbühne de Berlim. A saga sertaneja, cuja encenação se iniciou em 2001, em toda a sua extensão tem 25 horas de encenação, em um dos projetos mais ousados das artes cênicas mundiais.

A montagem da obra de Euclides da Cunha faz referência à resistência do grupo contra o projeto de construção de um Shopping Center, nos arredores do teatro Oficina, pelo Grupo Silvio Santos. Além de, em todas as peças, fazer uma ponte irônica entre a guerra de Canudos e os acontecimentos do momento, como o Papa Bento XVI, a invasão do Iraque, o mensalão e os ataques do PCC.

O novo Oficina, tombado pelo Condephaat em 1982, foi projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi, italiana radicada brasileira, transformando-o em um teatro-pista, com parede de vidro, teto (retrátil) móvel, sendo sua arquitetura vencedora da Bienal de Praga em 1999. Sua última montagem, em 2008, foi "Os Bandidos", baseado na obra "Die Räuber" de Schiller, e também abordava a resistência do grupo contra o grupo Silvio Santos. Entre as principais montagens do Grupo, tiveram textos de Eurípedes, Shakespeare, Artaud, Nelson Rodrigues, Jean Genet, entre outros.

Vitor Honorio Fonseca Pereira

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